Por Adryelle Valgas Damasco
“A imprensa tem que ser sempre uma oposição a qualquer governo. A sua prática de fiscalização deve ser um incômodo em algum nível”,
afirma Pedro Gil, repórter de política na coluna Radar, da Veja, durante palestra na IV Jornada de Comunicação da Belas Artes.

O jornalismo é operado exclusivamente em regimes democráticos. Uma onda de ataques contra jornalistas, veículos e emissoras motivada por governantes significa risco à Democracia.

Em novembro de 2018, durante coletiva, Donald Trump atacou verbalmente e retirou a credencial de entrada na Casa Branca do jornalista da CNN, Jim Acosta. Ações recorrentes do presidente norte-americano contra a liberdade de imprensa reforçam o posicionamento de jornalistas ao redor do mundo, sobretudo o repúdio à censura, velha conhecida da política brasileira. Casos similares relembram diariamente os perigos que se escondem por trás de um novo governo que estabelece a imprensa como inimiga. Práticas de violência e ataques à imprensa se tornam frequentes e um país sem devida cobertura jornalística é fadado à existência de uma única fonte de (des)informação.

Ranking coloca o Brasil como um dos países mais violentos para a prática do jornalismo. Segundo levantamento deste ano, realizado pela ONG Repórteres sem Fronteiras, o país ocupa a 105ª posição na Classificação Mundial da Liberdade de Imprensa. Desde as campanhas presidenciais de 2018, o número de jornalistas violentados e assassinados em período de atividade aumentou entre aqueles que cobrem e investigam pautas relacionadas às questões políticas e ao crime organizado. 

Pedro Gil,  recém-formado em jornalismo pela PUC-SP, foi convidado para debater com alunos de comunicação social sobre a responsabilidade social do jornalismo enquanto ponte entre governo e população e formadora de opinião, além da importância da imprensa em meio a crise política do governo Bolsonaro. 

O repórter explicou que o bolsonarismo trouxe mudanças na relação entre fontes e imprensa desde a entrada do novo governo. O PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, é um exemplo de desorganização e falha de comunicação. Durante conversa com jornalistas no Clube Militar, RJ, seu vice, General Mourão, criticou os que tratam a imprensa como inimiga e vê urgência na busca de profissionais que “saibam transmitir aquilo que o governo quer transmitir”.
  
A relação entre veículo e fonte é complexa. Segundo o jornalista, “ao mesmo tempo que é importante criar vínculos de confiança com a fonte para que ela nos dê maior acesso à informação, é importante também estabelecer limites”. Além disso, “toda fonte tem seu interesse. Há pessoas querendo prejudicar outras enviando notas com informações falsas conscientes de que há fraude,  aumentando a necessidade de apuração dos fatos”, destaca. 

Durante o debate, estudantes notaram que diversos veículos se preocupam mais em afirmar um posicionamento pró-governo do que, de fato, informar. “A imprensa enviesada aparenta ocupar grande espaço, sobretudo nas emissoras de televisão e no meio impresso”, defendem os estudantes. O palestrante exemplificou casos de coberturas tendenciosas a partir de suas experiências profissionais e contato com fontes e alertou sobre a impossibilidade de atingir a imparcialidade e fazer publicações neutras. A seleção das palavras em um texto já revela traços de parcialidade e do posicionamento do jornalista que o escreve, “mas é preciso buscar a objetividade acima de tudo”, aconselha Pedro Gil.